Nov 08 2008
Freeware não é Software Livre
Não é por vontade própria, mas costumo dar uma vista de olhos no kerodicas.com. Não que tenha algo contra; o kerodicas tem todo o mérito, dentro e fora do seu nicho, apenas não me desperta particular interesse. As minhas preferências de leitura andam, não necessariamente nesta ordem, pela política, desporto, informação, curiosidades, software livre, webdesign, design gráfico, música, etc.
Ontem, enquanto dava uma vista de olhos pelo site, reparei que mencionavam o lançamento da segunda beta do Firefox 3.1. O texto faz apenas um resumo do que é o Firefox, e em rodapé aparece alguma informação sobre o browser: sistemas suportados, licença, página oficial e links para download. Foi nesta informação que voltei a encontrar um erro que o(s) autor(es) do Kerodicas continuam a cometer, apesar de já lhes ter chamado a atenção para isso. Em vez de mencionarem as três licenças que regem o Firefox - MPL, GPL e LGPL - classificam-no como freeware (no momento antes da publicação deste post, o erro ainda não tinha sido corrigido). Esta informação é, como é óbvio, errada, porque o Firefox é Software Livre e não ou uma aplicação ditatorial/proprietária que se pode utilizar, dentro dos termos definidos pelo seu autor (termos esses que têm o hábito de ser castradores dos direitos dos utilizadores), sem pagar uma licença, vulgo freeware.
Este erro não é exclusivo do kerodicas. Com muita pena minha, este é um erro bastante frequente e pode ver-se em diversos sites nacionais e internacionais. A coisa chega ao ponto de se venderem licenças de utilização para aplicações livres. Não que o software livre tenha que ser obrigatoriamente gratuito, mas pressupõe que o utilizador pode aceder livremente ao código, alterá-lo e distribuí-lo a seu belo prazer, e usar a aplicação da forma que bem entender. Com o freeware, não pode fazer isso; o freeware só difere do software proprietário pago por não ser pago; de resto, é a mesma coisa: não é seguro porque não podemos ver o que o software faz, e o programador mostra desconfiança e desrespeito pelo utilizador porque esconde o código.
E podes acreditar que o erro não é apenas nosso. Basta dar uma olhada no MajorGeeks.com ou mesmo no site Softpedia.com que rapidamente detectarás uns quantos. E sabes porque isto acontece? Porque a palavra “freeware” é lida literalmente (ou seja, tradução directa - software gratuito). Não é que a referência ao tipo de licença seja muito importante, até porque se perguntar o que é um GPL, um MPL ou mesmo um LGPL, a maioria das pessoas nem sequer fazem ideia do que é. A utilização do termo “Freeware” é também assim, devido à situação de incógnita de vários utilizadores, usada mais por uma questão de prática de identificação, tanto que em alguns downloads colocamos “Freeware - Open Source”.
Basta fazer a experiência:
Criar dois posts com o título igual do software em questão e colocar no campo licença, um com GPL e outro com Freeware. Adivinha lá qual será o mais sacado? Apesar de ser o mesmo, os utilizadores não o vêem da mesma maneira.
Em suma, a utilização do termo “Freeware” é mais usada por ser um termo prático em que o utilizador final saiba identificar o que é pago do que não é.
Já agora aproveito e abro debate em perguntar aos utilizadores daqui, o que significa para vocês GPL, MPL e LGPL, isto claro, sem olharem para a Wikipedia ou pesquisar na Google. Será que conseguem responder?
«Em suma, a utilização do termo “Freeware” é mais usada por ser um termo prático em que o utilizador final saiba identificar o que é pago do que não é.»
Mais prático? É incorrecto! É como chamar Manuel ao Francisco. Usar freeware é “baixacalcismo” (o Mário Soares ainda me cobra dividendos desta xD) e extremamente estúpido, porque estás às cegas.
«Já agora aproveito e abro debate em perguntar aos utilizadores daqui, o que significa para vocês GPL, MPL e LGPL, isto claro, sem olharem para a Wikipedia ou pesquisar na Google. Será que conseguem responder?»
GPL: GNU General Public License
LGPL: Lesser GNU General Public License
MPL: Mozilla Public License
Eu tenho contacto com estas e outras licenças (BSD, AGPL, etc) todos os dias.
Com a GPL, o software livre nasce e fica livre. Com a LGPL também, com a excepção de poder ser usado juntamente com dictatorware. Com a MPL, o software pode tornar-se nocivo, isto é, proprietário (a MPL até é baseada na modified BSD license)
Penso que com este tipo de artigo estão a levar um bocadinho a extremos as coisas, principalmente a questão em causa.
Tal com o o Jarimba menciona, a confusão, ou não, dos termos faz-se por practicidade e nada mais.
Fazer um artigo onde se menciona directamente um blog, no caso o KeroDicas, pode ser lisongeador, mas na vossa situação, acabamos por não entender a menção directa a nós, pois existem dezenas, para não falar em centos de blogs e sites que, à semelhança do KeroDicas.com e KeroDownload.com, classificam ou catalogam programas de Software Livre como sendo Freeware, e na verdade nunca vi mal nenhum nisso, porque as diferenças da utilização final do programa são mínimas ou inexistentes.
Existem diferenças e não são poucas. Para começar, tu podes saber o que o programa realmente faz. Depois, não mandas os teus direitos às urtigas só para utilizar o programa.
Sou extremista por chamar as coisas pelos nomes?
Eu posso achar mais prático chamar-te Gervásio, mas parece-me que não vais gostar.
Tu não vês, mas não quer dizer que ele não exista.
Deixo-vos uma recomendação de leitura:
http://www.gnu.org/philosophy/philosophy.html
a questão parece-me bem simples. quando alguém fala de um software livre como freeware não percebe que esta a reduzi-lo à insignificância de um freeware, que não é mais do que um programa que tem menos limitações do que shareware ou trialware mas mais limitações do que um livre ou open source
portanto e pegando na maneira de pensar geral aceite actualmente eu colocaria isto numa escala por ordem de decrescente de possibilidades permitidas pelo licenciador ou licencça
public domain
open source
livre
freeware
trialware
shareware
ou seja o public domain não tem qualquer restrição tudo é de todos e podem fazer com ele o que bem vos entender.
o open source ja inclui algumas restrições assim como o livre que diz que tem de manter o copyright e manter livre
o freeware não tem sequer a regalia do código pelo que o utilizador tem de se limitar a aceitar o binário confiando no autor, apesar do autor não ter confiado no utilizador e sofrer com a possibilidade real de levar com virus, spywares e outros malwares
as restrições dos outros são conhecidas.
pegando nisto, creio que conseguem compreender a importância de distinguir ou dar ao utilizador a distinção, até porque quer queiram quer não são termos que ja fazem parte do dia a dia.
eu posso estar a procura de um programa open source, passo pelo vosso site e vejo que é freeware e não levo. no entanto era exactamente o que eu procurava.
no entanto o fundamental é que percebam e dêem a perceber que há mais para além do freeware e que os utilizadores podem ter mais direitos garantia e liberdades do que um simples freeware.
bom trabalho!
Existem outras situações no kerodicas que me desagradam e eu já reportei essa situação aos mesmos.
http://www.kerodicas.com/downloads/artigo=10385
Desde quando a CollabNet tem alguma coisa a ver com o OpenOffice, a não ser que é o cms usado por eles?
No kerodownload a situação já foi regularizada depois de eu ter postado reclamando
http://www.kerodownload.com/s-fx_info-id-20551.html
Mas ainda á bem pouco tempo aparecia também CollabNet
São pequenas situações que não deviam de acontecer e informam mal o usuário final!
Boas!
Penso que aqui o João Matos tem razão. Devem ser prestadas as informações mais concretas possível sobre os diferentes tipos de programas. Quanto à questão do gratuito, há uma solução muito simples que alguns sites de downloads já utilizam: basta colocar lá uma linha onde se diz “Preço - Gratuito”…
Bom dia!!!…
Olá a todos
como é a 1ª vez que posto aqui, começo por agradecer o vosso trabalho, utilizo o vosso rss numa página sobre floss/educação (espero não estar a infringir nenhuma regra…) onde colaboro.
Entretanto, concordo plenamente com o problema (tenho algumas dúvidas na escala
proposta pelo João Matos - relativamente ao que considera open source) e só gostaria de acrescentar duas situações que considero ainda mais graves (e que me entristecem bastante…):
- o Min da Educação de Portugal ter uma página sobre software livre (http://softlivre.crie.min-edu.pt/) onde estão links para programas proprietários
- o mesmo Ministério (e uma equipa da Univ de Èvora) editaram um caderno online sobre Software livre (http://www.crie.min-edu.pt/index.php?section=233&module=navigationmodule) com uma lista de “Software livre e Software de código aberto com interesse para a educação” que inclui pérolas como o MS MovieMaker
é para rir e chorar…
abraço a todos
ola Nelson!
promover software livre não infringe nenhuma regra!
considero open-source de acordo com a definição do opensource.org pelo que é menos restrito do que a gpl logo a escala está correcta.
não tinha conhecimento do segundo caso, mas do primeiro ja tinha tido a infelicidade de ver… enviei um e-mail para lá, mas não obtive resposta.
talvez uma onda de contactos em massa e exposição publica não fosse má ideia…
Olá João
A minhas dúvidas na escala é que não percebo bem qual é o “grau”… menos restrito?
eu talvez tenha interpretado mal… estava a ver uma lista onde no topo estaria mais liberdade e na base menos liberdade… percebi mal?
- em domínio público não significa que o código fonte seja distribuído. pode estar em domínio público e não ser OS nem Livre mas colocas no topo… realmente podes “fazer tudo” mas sem o código fonte como é que podes considerar que é menos restrito?
- para ser Livre (reconhecido pela FSF) tem de obrigatoriamente ser OS (código tem de estar disponível)
- Pode ser OS (aqui entendido com licença reconhecida pela OSI) e não ser Livre
Ou seja, parece-me que Livre é de facto mais “restrito” no sentido em que impõe mais condições mas são condições de liberdade. Exemplo, existe Livre sem ser copyleft e Livre com copyleft. Pela lógica que estabeleces, parece-me que colocarias o Livre com copyleft abaixo do Livre sem copyleft… eu colocaria acima porque garante mais liberdades, impõe mais regras mas no sentido de maior liberdade.
sem bem me lembro, todas as licenças reconhecidas pela FSF são também reconhecidas pela OSI. O inverso não acontece. Ou seja, existem licenças que a OSI reconhece como OS mas a FSF considera que não são Livre. Isto significa que o critério para ser SL é mais apertado do que para ser OS (e é neste sentido que entendo o restrito) mas a liberdade é maior.
talvez aqui já seja mesmo preciosismo mas é tão bom ter com que partilhar estas discussões
é que infelizmente a maioria não passa mesmo do “gratuito” = Livre …
grande abraço!
@Nelson
Numa página de um site público, ter links para software proprietário, é vergonhoso! E confundir software livre com software proprietário, no caso de uma entidade governamental, idem aspas!
O menos restrito é o domínio público. Só que isso implica que o conteúdo pode ser tornado restrito, isto é, proprietário - mas isto também não é assim tão linear.
A restrição da GPL, por exemplo, é dizer que o software nasce e se mantém livre. Pessoalmente, vejo isso como uma garantia, uma salvaguarda que impede o software de se tornar nocivo, e não como uma restrição. Com a Mozilla Public License, por exemplo, o software pode tornar-se proprietário, e isso é muito mau para os utilizadores e para quem contribuiu para a aplicação que usa essa licença.
sim, parti do principio que tinha o codigo, anyway acho que serviu para explicar o que se pretendia…
obrigado pelo reparo