Arquivo para a categoria 'opiniões'

Feb 03 2009

A aparente falta de união das comunidades de software livre nacionais

Published by Bruno Miguel under opiniões

Eu só conheço a filosofia Software Livre há quase 2 anos e rejo-me por ela há quase tanto tempo quanto isso. Primeiro mudei para o GNU/Linux (poderia ter escolhido uma BSD, mas optei por este) e fui abandonando o software fechado aos poucos. Foi um período a que chamei «desmame», o período em que o bebé deixa o seio da mãe e, numa analogia ao processo de desintoxicação que os dependentes de drogas passam, porque os malefícios do software fechado podem ser comparados aos do consumo de drogas pesadas, mas a nível social: ambos criam uma dependência da qual é muito difícil sair e retiram liberdade. Sei que não é muito tempo, e também sei que o meu conhecimento das comunidades nacionais em torno do software livre não é o maior, mas é a minha experiência.

A minha participação, a nível nacional, passa por escrever aqui no Programas Livres, recomendar software livre às pessoas (seja online ou em pessoa) e, numa prática paralela, passou por escrever sobre software livre no meu blog pessoal e no Webtuga, onde espero voltar a colaborar em breve. Também já colaborei com o Open Mania e tenciono colaborar mais vezes; no Tech4Pc também já escrevi sobre software livre, mas por decisão da equipa deste site a minha participação foi terminada. Sempre que me é possível, vou dando uma ajuda ao projecto DRM-PT.info. Fora isso, vou ajudando, dentro das minhas possibilidades, os membros da mailing list nacional do Ubuntu. Não é muito para mostrar, mas foram as oportunidades que me apareceram e foi o que consegui agarrar.

Talvez isto não seja suficiente para ter uma melhor imagem do panorama nacional a nível de comunidades de software livre, mas sinto que não há grande unidade entre elas. Parece que cada um puxa para seu lado - quase a roçar o clubismo - e estão todos dispersos, sem um ponto em comum para além do software livre. Pondo isto de uma forma mais simples: parece que não há um farol nas comunidades nacionais de software livre. Corrijam-me se estiver enganado, mas é esta a ideia que tenho.

Onde estão as iniciativas conjuntas? A troca de ideias entre as diferentes comunidades? O ver para além da própria iniciativa, para bem da iniciativa própria e da população em geral? Uma comunidade do Ubuntu a colaborar com uma do Fedora, do OpenSuse, com a ANSOL e o Programas Livres, por exemplo? Espero não estar a ser injusto porque esse não é o objectivo, nem quero passar a ideia de que estou a criticar alguém. Quero apenas deixar aqui a sugestão de unidade, para benefício do software livre e da população portuguesa.

Um agradecimento especial à Vanessa Quitério, que fez a revisão deste texto.

Relacionados

22 comentários

Jan 02 2009

ODF obrigatório nas instituições públicas brasileiras

Published by Bruno Miguel under opiniões

Eu não tenho vergonha de ser português, nem nada perto disso, mas tenho vergonha do nosso atraso tecnológico e das más decisões tecnológicas feitas por terras lusas. Enquanto parte do mundo anda a evoluir tecnologicamente, nós repetimos os erros do passado e continuamos a entregar o nosso futuro tecnológico a empresas de software fechado/ditatorial; enquanto nós continuamos a usar formatos fechados na administração pública, noutros países, como o Brasil, a utilização de formatos abertos e livres passou a obrigatória.

O ODF, em Abril do ano passado, já tinha sido adoptado como norma brasileira. Agora, quando a versão 4.0 dos Padrões de Interoperabilidade de Governo Electrónico (e-PING) foi publicada, passou a obrigatório. O anúncio foi feito pelo SERPRO em comunicado, que deixo aqui transcrito.

A nova versão publicada pela Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação (SLTI) do Ministério do Planejamento adota o Open Document Format (ODF), como formato padrão para guarda e troca de documentos eletrônicos no governo federal.

A adoção do ODF já vinha sendo discutida dentro do governo. No mês de agosto, em Brasília, durante o Congresso Internacional Sociedade e Governo Eletrônico - Consegi 2008, diversas instituições assinaram o Protocolo Brasília, um documento público de intenções para adoção de formatos abertos.

Até a última versão da e-Ping o formato ODF constava com o status de recomendado pelo documento, sendo facultativo aos órgãos o uso, na versão 4.0 o ODF assume característica de adotado, dessa forma, torna-se obrigatório para todos os órgãos da administração direta, autarquias e fundações.

DFD FlagO padrão ODF é reconhecido pela ISO, através da Norma ISO/IEC 26300O ODF, de 2006. O padrão ODF, também, foi aprovado como norma nacional pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), sob o código NBR ISO/IEC 26.3000. O ODF por ser um padrão aberto, também é multiplataforma, permitindo a liberdade de escolha do usuário. Outra característica importante é a vantagem que oferece em relação a guarda dos documentos eletrônicos, na medida que não está preso a nenhuma suíte de escritório e, conseqüentemente, a suas versões. O formato é livre de royalties e não tem limite de reutilização.

Comunicação Social do Serpro - Brasília, 30 de dezembro 2008

Se dizemos viver numa democracia, porque continuamos a não levar esses valores para o campo tecnológico? As empresas continuarão a ter lucros à mesma, a tecnologia continuará a evoluir (arrisco a dizer que irá evoluir mais rapidamente com software livre), os cidadãos continuarão a poder usar os seus computadores. Só haverá uma diferença: será justo para todas as partes e não apenas para quem desenvolve software.

Se não fizermos a mudança para software livre, estaremos a comprometer o nosso presente e futuro, e o futuro das gerações vindouras. Seremos uns saloios provincianos que acham que fazem grande coisa quando, na realidade, não estão a fazer nada de jeito.

{via Software Livre no Sapo}

Relacionados

2 comentários

Nov 11 2008

UBUNTU 8.10

Entre a comunidade, desde 2004, tem sido nos últimos anos a mais badalada distribuição Linux, provavelmente a mais utilizada no uso doméstico e principalmente em desktop.

Apesar de todos os esforços por parte da Canonical, o uso em servidores ainda é relativamente inexistente, provavelmente devido à confiança depositada em outras distribuições e o olhar desconfiado que muitos administradores de sistemas ainda mantêm. Pessoalmente, já experimentei as duas última versões LTS, 6.06 e 8.04 num servidor e os problemas apresentados não foram muito complicados de resolver, apesar de existir um bug um pouco mais grave mas que rapidamente foi resolvido. Note-se que as versões LTS tem um período de suporte entre 3 a 5 anos, enquanto as “outras” esse período é de apenas 18 meses. Em termos de segurança e estabilidade, a experiência com o 6.06 foi muito boa com cerca de um ano nonstop. Quanto à 8.04, apenas a mantive durante 2 meses nonstop e durante esse tempo sempre se manteve estável, tendo sido substituída pelo CentOS apenas por uma preferência pessoal.

Mais uma vez a Canonical conseguiu cumprir os prazos a que se propôs, de seis em seis meses uma nova versão, e lançou a versão 8.10 há cerca de duas semanas atrás. Com o lançamento do Ubuntu, a Canonical lança outras versões de forma a abranger as necessidades específicas de todos os utilizadores tais como:
- Kubuntu - gestor gráfico kde;
- Xubuntu - leve gestor gráfico Xfce vocacionado para uso em computadores antigos e portáteis “menos” rápidos;
- Ubuntu Studio - vocacionado para multimédia - áudio/vídeo/grafismo;
- Mythbuntu - Media Center.

Todas estas versões são disponibilizadas para processadores Intel/AMD 32 bit (i386) e 64 bit (x86_64). Para servidor existe ainda o Ubuntu Server, que, para além das plataformas indicadas, ainda contempla os processadores SPARC.

Apesar de ter mencionado que Xubuntu se prestava a computadores “menos” rápidos, nada impede que seja instalada nos computadores bem rápidos, solução aliás que é utilizada por este escriba no mais rápido computador presente no lab caseiro. Gosto essencialmente dos parcos recursos que utiliza ao mesmo tempo que me permite ter um ambiente gráfico excepcional.

A experiência com o Live CD não foi das melhores já que o Ubuntu não lidou bem com o conjunto placa gráfica Nvidia 8600 GT/monitor TFT ACER. AL 1912.  Como eu, desde o princípio, decidi dedicar este espaço a distribuições Linux do tipo LiveCD que, ao mesmo tempo, funcionassem em pelo menos dois computadores do “mylab”, o objectivo não foi inteiramente cumprido. Enquanto neste computador tive problemas que foram ultrapassados de forma mais ou menos fácil, mas mesmo assim fora do âmbito deste espaço, em dois outros não tive qualquer problema, facto que me levou a escrever na mesma este artigo sobre Ubuntu 8.10.

Assim, numa primeira análise, o Ubuntu 8.10 cumpre praticamente tudo o que prometeu mas com uns pequenos problemas de juventude, os quais certamente serão resolvidos rapidamente pela comunidade e incluídos nas actualizações.
O que é facto é que cada vez se nota mais a apetência dos utilizadores pelas versões mais recentes, o que pode levar a pequenos dissabores para todos aqueles que se estão a iniciar ou com poucos conhecimentos da realidade GNU/Linux, mas com o tempo espero que as coisas mudem de figura. Por esse motivo recomendo a todos uma consulta ao novo Ubuntu.pt onde, para além de notícias e informações importantes, poderá encontrar um grupo de pessoas sempre pronto a ajudar.

Para todos os interessados, já sabem que o sítio do costume - “darkstar” - está disponível à vossa espera.

Divirtam-se.


jocaferro UBUNTU 8.10 José Rocha escreve no PL todas as terças um artigo sobre Sistemas Operativos Abertos.
Podem encontrar mais artigos como este no seu blog pessoal.

Relacionados

2 comentários

Nov 08 2008

O limite do Software Livre é a imaginação

Published by Bruno Miguel under opiniões

Quando estamos de mãos e pés atados, não vamos longe, por mais que nos esforcemos; quando estamos livres, vamos até ao infinito (e mais além). Com software livre, temos liberdade e a imaginação é o limite. Ainda agora a Red Hat fez algo que a VMWare dizia ser impossível: desenvolveu uma forma de migrar máquinas virtuais de um computador para outro, sem desligar ou parar nada. Outro exemplo são as distribuições modernas do GNU/Linux que podem ser iniciadas a partir do CD, algo que a maioria dos sistemas operativos proprietários ainda não implementou.

O software livre é como uma floresta a fervilhar de vida; uma fonte inesgotável de ideias; uma forma de tentar alcançar o impossível e chegar mais longe. Citando Albert Einstein: «A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação envolve o mundo».

As possibilidades do software livre não acabam num sistema que permite a migração “live” de máquinas virtuais. Em nossas casas podemos implementar ideias usando software livre. A empresa japonesa Plat’Home sabe disso, por isso lançou um concurso chamado «Will Linux Work?», para premiar as melhores ideias para a implementação de soluções com recurso ao software livre. Um dos requisitos obrigatórios era a utilização do sistema GNU/Linux.
Esta empresa recebeu várias propostas. Uma das propostas é a criação de um sistema para fechar automaticamente a porta de um galinheiro. Este sistema faria uso de uma webcam para permitir ao utilizador ver se estava tudo bem, usaria o SNTP para sincronizar a hora e saber quando é que devia abrir e fechar a porta, e outras aplicações. Outra ideia é um sistema que permite ver as estatísticas dos gastos de electricidade em casa. Se isto já era algo útil e necessário, nos tempos que correm torna-se ainda mais imprescindível.
Estes são só dois exemplos do que é possível alcançar quando não se têm amarras a dificultar ou impedir o movimento. Quando usamos software livre, estamos apenas limitados pela nossa imaginação; se usamos software proprietário, as limitações estendem-se para além da imaginação.

Se ainda estão presos, libertem-se!

Relacionados

1 comentário

Nov 08 2008

Freeware não é Software Livre

Published by Bruno Miguel under opiniões

Não é por vontade própria, mas costumo dar uma vista de olhos no kerodicas.com. Não que tenha algo contra; o kerodicas tem todo o mérito, dentro e fora do seu nicho, apenas não me desperta particular interesse. As minhas preferências de leitura andam, não necessariamente nesta ordem, pela política, desporto, informação, curiosidades, software livre, webdesign, design gráfico, música, etc.

Ontem, enquanto dava uma vista de olhos pelo site, reparei que mencionavam o lançamento da segunda beta do Firefox 3.1. O texto faz apenas um resumo do que é o Firefox, e em rodapé aparece alguma informação sobre o browser: sistemas suportados, licença, página oficial e links para download. Foi nesta informação que voltei a encontrar um erro que o(s) autor(es) do Kerodicas continuam a cometer, apesar de já lhes ter chamado a atenção para isso. Em vez de mencionarem as três licenças que regem o Firefox - MPL, GPL e LGPL - classificam-no como freeware (no momento antes da publicação deste post, o erro ainda não tinha sido corrigido). Esta informação é, como é óbvio, errada, porque o Firefox é Software Livre e não ou uma aplicação ditatorial/proprietária que se pode utilizar, dentro dos termos definidos pelo seu autor (termos esses que têm o hábito de ser castradores dos direitos dos utilizadores), sem pagar uma licença, vulgo freeware.

Este erro não é exclusivo do kerodicas. Com muita pena minha, este é um erro bastante frequente e pode ver-se em diversos sites nacionais e internacionais. A coisa chega ao ponto de se venderem licenças de utilização para aplicações livres. Não que o software livre tenha que ser obrigatoriamente gratuito, mas pressupõe que o utilizador pode aceder livremente ao código, alterá-lo e distribuí-lo a seu belo prazer, e usar a aplicação da forma que bem entender. Com o freeware, não pode fazer isso; o freeware só difere do software proprietário pago por não ser pago; de resto, é a mesma coisa: não é seguro porque não podemos ver o que o software faz, e o programador mostra desconfiança e desrespeito pelo utilizador porque esconde o código.

Relacionados

12 comentários

Oct 31 2008

Os governos sul americanos e o software livre

Published by Bruno Miguel under opiniões

Via NorthxSouth, fui remetido para um interessante artigo do jornal espanhol Público sobre o uso de software livre na América Latina. Neste artigo podemos ler o seguinte sub-título: «Los Gobiernos suramericanos impulsan el uso de software libre frente al propietario buscando independencia tecnológica, seguridad y desarrollo local» (em português, é algo como «Governos Sul Americanos preferem o software livre ao proprietário para conseguirem independência tecnológica, segurança e impulsionarem o desenvolvimento local»). O importante a reter é as razões para a escolha do software livre: segurança, independência e impulso do desenvolvimento nacional, isto é, tudo aquilo que em Portugal não se faz. Interessante, não é? Não, é apenas triste, porque cá não temos ninguém com a visão necessária para perceber isto e começar a apostar apenas em software livre. Estamos tecnologicamente dependentes, não estamos seguros porque a natureza do software proprietário é o oposto da segurança (não há segurança quando não podemos ver o que determinada aplicação realmente faz; confiança cega não é segurança, é apenas estupidez) e, com estes acordos, estamos longe de ajudar a economia a crescer sozinha - uma economia que cresce apoiada numa bengala cai assim que a bengala é tirada.

Vejam o Brasil, por exemplo. Nos últimos anos, este país tem crescido a olhos vistos. Tecnologicamente, é bastante avançado. E sabem em que é que apostam maioritariamente? Em software livre. Coincidência? Não! Eles sabem o que estão a usar e estão a adaptar e desenvolver soluções à medida das necessidades dos cidadão; ainda agora usaram software livre nas máquinas de votos e todos os partidos puderam analisar o código do software. Para além disso, existe justiça tecnológica porque qualquer pessoa pode adaptar uma aplicação, pode fazer um fork, pode estudá-la e pode distribuí-la. Não é só dar jeito ter o código à vista, é ser justo e respeitar todos - programadores e utilizadores. Ninguém está dependente de ninguém e existe transparência. Podem chamar-lhe democracia tecnológica, se preferirem. O oposto, ou seja, o uso de software proprietário, é uma ditadura tecnológica, algo a que me parece que vocês não se querem submeter - conscientemente, pelo menos.

Quando veremos Portugal como um exemplo na implementação e uso de software livre? Acho que mais depressa vejo o Cascos de Rolha de Cima [1] ganhar o campeonato de futebol que vejo Portugal servir de exemplo neste campo. Desculpem, mas é o que penso. Inverter esta dependência tecnológica, que eu comparo à dependência das drogas pesadas, e esta falta de visão, não é fácil, muito menos quando concursos públicos que parecem favorecer empresas de software proprietário. Se não acreditam, vão até ao Software Livre no Sapo; lá, estão alguns destes casos expostos. Gosto tanto deste país como qualquer um de vocês, mas neste ponto não tenho problema nenhum em dizer que tenho vergonha de Portugal. Enquanto uns começaram a acordar para a vida, nós estamos a dormir que nem uma pedra.

Dou-vos mais um exemplo de um país que não está a dormir: a Alemanha. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Governo alemão decidiu migrar 11000 desktops para o GNU/Linux. Por enquanto, apenas 4000 usam este sistema operativo e o ministério já apresenta uma poupança de 66%. De acordo com o antigo responsável das TI deste Ministério e actualmente um dos diplomatas na embaixada alemã em Espanha, Rolf Schuster, cada desktop dos Ministérios que não usam software livre tem um custo anual que ronda os 3 mil euros, ao passo que os desktops do Ministério dos Negócios Estrangeiros que usam software livre custam, cada um, perto de mil euros (por ano). É uma poupança bastante grande, mas isso não é o mais importante. A independência tecnológica conseguida, a segurança obtida por saberem exactamente o que o software está a fazer - é livre, é impossível não saber o que ele faz - e a possibilidade de adaptar o software às necessidades específicas de cada Ministério são a grande vantagem de usar software livre.

Algum de vocês compraria um livro que viesse selado com um cadeado e que não pudessem legalmente abrir? Confiar-me-iam os dados da vossa conta bancária, a vossa casa ou o vosso carro? Então porque fazem isso com o software que usam no vosso computador? Não se esqueçam que o computador é vosso e só vocês é que mandam nele. Ao usar software proprietário perdem esse controlo; deixam de mandar no computador e passam a sujeitar-se à vontade de terceiros; estão a subjugar-se; ficam com algo que pagaram e não é vosso. Para mim, isso é mau negócio. Está na altura de dizerem «Aqui mando eu, carago!», e para isso só têm que usar software livre. O Brasil mudou; a Alemanha está a mudar; a Espanha também; a Venezuela, idem aspas. De que é que estão à espera?

Depois de escrever o primeiro rascunho deste texto enviei-o ao João Matos para que ele lhe desse uma leitura. Ele sugeriu-me que apresentasse algumas soluções neste texto, porque dizer mal todos dizem. Ora, dizer mal é uma das minhas grandes qualidades; já o mesmo não posso dizer da apresentação de soluções. Apesar disso, fiz um esforço e criei uma pequena lista de soluções, e desafio-vos a ajudar-me a aumentá-la.

A minha pequena lista de soluções para o problema do software proprietário em Portugal é:

  • procurar junto das universidades parceiros para o desenvolvimento de aplicações livres para as instituições públicas;
  • procurar junto das empresas nacionais parceiros para o desenvolvimento de aplicações livres para as instituições públicas;
  • utilizar apenas software livre nas instituições públicas (repartições de finanças, Assembleia da República, escolas e hospitais públicos, etc).
  • usar apenas formatos abertos para os documentos e comunicações;
  • parar, de vez, de fazer parcerias com empresas que desenvolvem software proprietário;
  • não permitir a entrada de software proprietário em concursos públicos;
  • dar preferência de sistemas livres nos computadores que são comercializados (pelo menos até o software proprietário ser erradicado do país);
  • incentivar as empresas a desenvolver software livre;

[1] eu não faço ideia se esta localidade existe ou não. se existe, os seus habitantes que me desculpem o uso da sua localidade para fazer uma ilustração algo exagerada - contúdo, correcta - de um ponto de vista

Relacionados

3 comentários

Oct 27 2008

Netbooks com GNU/Linux muito requisitados na Austrália

Published by Bruno Miguel under opiniões

Hoje, para a categoria «Roam-se de inveja, tuguistaneses [1]», trago-vos notícias vindas da Austrália. Neste país, onde há um canguru a cada 100 metros, os pedidos de netbooks com o GNU/Linux crescem de dia para dia, e é perfeitamente normal ver as pessoas na rua com o Eee PC.

Em visita a Austrália, o conhecido blogger The Var Guy constatou isso mesmo quando conversou com um funcionário da Geek Central, uma empresa que comercializa hardware, software e ainda fornece apoio técnico a PMEs. De acordo com este funcionário, os pedidos de netbooks com o GNU/Linux foram tantos que eles tiveram que os juntar à oferta de netbooks com o Windows XP.

Que é que nós, tuguistaneses, fazemos por terras de Tuguistão? O melhor que se consegue é fornecer aos miúdos netbooks com a Caixa Mágica 12 e o Windows XP. Que raio é que o XP ali está a fazer? Nós não vivemos numa ditadura para estarmos a impingir dictatorware a ninguém! Vale a esses jovens, e a vocês também, a existência do Programas Livres, o melhor blog do mundo para encontrar imenso software livre para usarem esse sistema proprietário.

[1] tuguistaneses, de Tuguistão, o país dos tugas

Relacionados

3 comentários

Oct 02 2008

Perigos do software proprietário

Published by Bruno Miguel under opiniões

vigilância

O software proprietário não é só um perigo para a liberdade e um atentado à ética social. Também é um grande perigo para a segurança, como Nart Villeneuve descobriu quando reparou que o Skype continha uma “funcionalidade” que permitia ao regime chinês guardar mensagens de texto transmitidas neste cliente de VoIP. E o pior (sim, ainda fica pior) é que as mensagens eram guardadas num servidor público a que qualquer pessoa podia aceder.

Estes registos continham, para além das conversas escritos, os nicks, os IPs, os números de telefone e outros dados pessoais. E não eram apenas relativos a utilizadores chineses, mas também de quem tinha comunicado, através do Skype, com utilizadores chineses.

Da próxima vez que quiserem usar uma aplicação proprietária só porque ela é engraçada, lembrem-se deste episódio e depois voltem a ponderar a utilização dessa aplicação. A escolha final é sempre vossa, mas convém que essa escolha seja feita com todos os prós e contras bem pesados.

{via Arstechnica}

nota: a imagem deste post chama-se Photoblogger e é da autoria de Thomas Hawk, que a disponibilizou sob uma licença Creative Commons 2.0 by-nc.

Relacionados

Sem comentários

Sep 26 2008

Do desktop para a web. Bom ou mau?

Published by Bruno Miguel under opiniões

As aplicações web estão a tornar-se cada vez mais populares e é quase um facto que, dentro de algum tempo, elas serão tão populares como as aplicações locais (ou de desktop, se preferirem). Isto é prático porque, independentemente do sistema e do local, a aplicação, à partida, mantém sempre o mesmo interface e só necessita de um browser para ser acedida.
Mas também levanta algumas preocupações, como a impossibilidade de distribuir e alterar essa aplicação de acordo com as nossas necessidades, e a informação inserida nessas aplicações, em boa parte dos casos, nunca ser realmente nossa. Basta ler os termos de serviços e as políticas de privacidade para constatarmos isso. Dou um exemplo: o DropBox. De acordo com os termos de serviço deste - passo a redundância - serviço, eles podem vender todos os ficheiros que inserimos na nossa conta se precisarem do capital dessa venda para não encerrarem a actividade. Podemos sempre encriptar os ficheiros, mas isso não é garantia absoluta.

As aplicações web são práticas. Podemos aceder a elas em casa, no trabalho, em casa de amigos, num cyber café. Podemos aceder em qualquer lado, só precisamos de um gadget - um simples telemóvel basta - e acesso à net. Não temos que as manter, instalar, nada. É só usar e já está. Bom, não é?
Não necessariamente. E a nossa liberdade? Se essa aplicação web for proprietária, voltamos ao mesmo: não a podemos alterar e nunca sabemos se essa aplicação faz algo mais do que devia, como recolher informação sem autorização. Isto não é paranóia, acontece mesmo. Recordam-se daquela aplicação que permitia fazer uma cópia local dos emais da nossa conta do Gmail? Ela, secretamente, enviava as passwords introduzidas para a conta de email do seu criador. Como era uma aplicação proprietária, era muito difícil alguém saber o que ela estava a fazer. Alguém acabou por descobrir e viu que o programa era um lobo com pele de cordeiro.
O software proprietário, seja ele para o desktop ou para a web, não levanta só problemas de ordem social: também é uma boa fonte de insegurança porque ninguém, para além de quem desenvolveu a aplicação, sabe o que ela realmente faz. Tanto quanto sabem, uma aplicação proprietária pode apenas fazer o que alega ou até roubar informação sensível do vosso computador, como passwords e números de cartões de crédito e respectivos pins.
Outro problema é a portabilidade da informação. Se um serviço web fechar, como iremos nós fazer uma cópia dessa informação? E mesmo que consigamos, será que ela vai estar num formato proprietário que ninguém sabe como aceder? Se usarem um formato livre, esse entrave desaparece, mas outro aparece: uma possível (digo possível porque não sei até que ponto essa violação existirá depois da empresa fechar portas) violação dos termos do serviço que tínhamos aceite.

Felizmente, as aplicações web não têm que ser proprietárias. Basta escolher uma licença que permita que ela possa ser distribuída, alterada e usada para o fim que vocês bem entenderem. Uma dessas licenças é a AGPL, uma versão da GNU General Public License criada com as aplicações web em mente.
De acordo com esta licença, todo o software deve ter uma forma de mostrar aos utilizadores o seu código-fonte. Normalmente, é uma link onde clicam e aparece o código-fonte dessa página. O serviço de microblogging, Identi.ca, está licenciado sob a AGPLv3 e o seu código pode ser descarregado livremente ou visto no próprio serviço.
As aplicações livres para a web seguem um pouco a ideia do OpenPGP - a web of trust (ou web de confiança, em português). Ao mostrar o código-fonte, os criadores da aplicação estão a dizer aos utilizadores que não fazem nada no escuro, que são pessoas de confiança. Ao usar aplicações web regidas por uma licença livre, os utilizadores estão a retribuir essa confiança. A confiança é recíproca e todos sabem o que se passa, como num estado verdadeiramente democrático.

Para uma exposição completa dos problemas das aplicações web proprietárias e da importância das licenças livres para estas aplicações, leiam este artigo da Free Software Magazine. O seu autor, Ryan Cartwright, faz uma exposição bastante boa destes problemas e da importância das licenças livres nas aplicações web.

Relacionados

3 comentários

Jul 29 2008

Microsoft tornou-se membro da Apache Software Foundation

Published by Bruno Miguel under opiniões

Como já é do conhecimento geral de quem segue com um mínimo de atenção as notícias de tecnologia (basta seguirem os pasquins publicitários que se dizem media de tecnologia), a Microsoft tornou-se um platinum partner da Apache Software Foundation e vai trabalhar com esta fundação em vários projectos.

Para conseguir este estatuto, a Microsoft teve que desembolsar nada mais que 100 mil dólares, quantia que terá que pagar anualmente por forma a manter este estatuto.

Como meio mundo já desenvolveu e/ou fez uma análise a esta notícia e a outra metade já as leu, não há necessidade de eu o fazer. Prefiro antes ouvir as vossas opiniões acerca desta iniciativa tomada pela Microsoft.

Relacionados

4 comentários

Seguinte »