Estamos de volta com mais uma entrevista e desta vez a vítima é Paulo Vilela, Arquitecto de Sistemas na Sun Microsystems e figura mais do que conhecida do nosso panorama do Software Aberto em Portugal. É da Sun que vem grande parte da ajuda para o OpenOffice em Portugal e também para o cd do Crie para as escolas. Tem participado em eventos nacionais, como os encontros nacionais de software livre, ou internacionais, como a recente Conferência Internacional do Software Libre, em Málaga.
Apesar de todas essas actividades ele reservou-nos um pouco do seu tempo. Vamos conhecê-lo e saber o que a Sun nos reserva para o futuro.
Fala-nos um pouco sobre ti. Quem és tu, de onde vens?
Sou o Paulo Vilela, Arquitecto de Sistemas na Sun Microsystems, onde trabalho há 10 anos. Antes disso trabalhei na Unisys (em Lisboa e em Londres), e na NCR.
Estudei no ISEL e no IST. Vivo na linha do Estoril, o que me torna um felizardo que está a poucos minutos da praia e do mar.
Como começaste a utilizar software livre?
Comecei a usar Unix e Xenix há 22 anos.. Na altura havia um precursor do software livre, o Unix BSD (Berkeley Systems Distribution), que se utilizava muito nas Universidades e que deu origem directa ao FreeBSD, ao OpenBSD, ao Solaris e ao OpenSolaris.
Na Sun utilizamos StarOffice desde que lá estou e OpenOffice.org desde que surgiu, em 2000.
O meu contacto com Linux é mais recente, data de há uns 4 anos. Mas venho defendendo há muito que a melhor transição para o software livre é aquela que eu próprio fiz - começar a utilizar aplicações de software livre em Windows - Firefox, Thunderbird, GIMP, e fazer depois, naturalmente, a transição para Linux - ou OpenSolaris
Qual é a tua função na Sun e em que é que ela consiste?
Sou Arquitecto de Sistemas, com foco na Administração Pública, Saúde e Educação. Quer isto dizer que faço apresentações de tecnologias Sun, participo na elaboração de propostas complexas, e acompanho o que se passa nas áreas mencionadas. Funciono também como interface com a comunidade do software livre.
Porque é que existe alguém virado para a comunidade Open Source? Qual a importância do Open Source para a Sun?
A consultora Gartner prevê que em 2012 90 % das empresas em todo o mundo utilizem software open source. A Sun quer liderar este movimento no campo empresarial. A Sun tem um compromisso assumido de migrar todo o seu software para Open Source, e tem estado a cumpri-lo. Esta aposta é inédita na indústria de informática e está detalhado em http://www.sun.com/software/opensource. O modelo open source, assente na colaboração, permite uma inovação e adopção mais rápida do software. A Sun Microsystems é neste momento o maior contribuinte em linhas de código para a comunidade open-source.
Existe uma estratégia global da Sun para o Open Source? Qual?
Sim. Conforme referi anteriormente, a Sun tem um compromisso assumido de migrar todo o seu software para Open Source, e de criar comunidades para que a sua adopção seja crescente e sustentável.
Aconselho a quem queira saber mais a leitura do relatório da Gartner “Open Source at Sun Microsystems, 2008″ : http://mediaproducts.gartner.com/reprints/sunmicrosystems/article1/article1.html
Quais são os programas livres (mais populares) da Sun?
São, sem qualquer ordem, OpenOffice.org, OpenSolaris, Netbeans, Glassfish Application Server, OpenESB , OpenJDK (Java), o Virtualbox e o MySQL
As notícias falam da perda de lucro da Sun. De que forma o Open Source pode ajudar?
A Sun está numa fase de transformação, de uma empresa com grandes margens de lucro obtidos na venda de sistemas Solaris/SPARC, para uma empresa que sem descurar essa área está agora também muito presente no mundo dos servidores x86, nas áreas do Armazenamento, dos Serviços e do Software. O software open-source tem tido um crescimento exponencial, constituindo a base tecnológica dos maiores empreendimentos do nosso mundo actual, como a Google, Amazon, e o Sapo em Portugal. É também a aposta estratégica de países em crescimento acelerado, como o Brasil, a India, a Rússia. A crescente identificação entre a Sun Microsystems e open-souce permitirá à empresa acompanhar esse crescimento.
Muitas empresas utilizam Solaris no backend. É viável substitui-los por Linux ou OpenSolaris?
O Solaris e o OpenSolaris estão-se a tornar inseparáveis. O OpenSolaris será a distribuição mais frequente, com tónica na inovação rápida. O Solaris será a versão com foco na estabilidade e no compromisso forte de suporte aos clientes. Toda a componente GNU do também apelidado GNU/Linux está também presente no Solaris/OpenSolaris. A diferença principal está no kernel. O Linux está ainda melhor preparado para toda a multiplicidade de drivers relacionados com o desktop. O Solaris está ainda melhor preparado para a estabilidade e escalabilidade requerida pelos grandes ambientes empresariais.
De que formas a Sun ajuda a comunidade? Mais especificamente a comunidade portuguesa?
Participo na direcção da ESOP - Associação de Empresas de Software Open-Source Portuguesas, em representação da Sun Microsystems.
Participo na coordenação do OpenOffice.org e da ODF Alliance em Portugal
Sou membro individual da ANSOL
Mantenho um blog, http://abretesw.blogsspot.com. Este é um blog pessoal, e não reflecte a posição da Sun, mas apenas a minha
Qual é a tua motivação? O que te faz participar nesta comunidade e ajudá-la?
Gosto da inovação, da crista da onda, e só o software livre me permite acompanhá-la por dentro. Acredito na abertura de ideias e transparência e no desenvolvimento pela cooperação. É extremamente motivante encontrar constantemente em Portugal e em todo o mundo pessoas que partilham essas ideias e que se empenham na inovação baseada nessa cooperação. Não sou um programador. A minha contribuição faz-se mais pela divulgação, que é uma tarefa imensa. A maioria dos portugueses não faz ideia do que é o software livre e de como pode beneficiar com ele. Há muito trabalho para fazer nessa área.
O que pensas da comunidade de software livre em Portugal, do seu presente e futuro?
Penso que está em crescimento, como evidencia o nascimento da ESOP, da Associação Ensino Livre e o óptimo exemplo do Programas Livres. Mas lanço um apelo à ANSOL no sentido de se reestruturar para crescer e federar todos os movimentos algo dispersos que existem em Portugal.
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